O avanço da Indústria 4.0 nos mais diferentes setores econômicos vem ajudando a disseminar um novo conceito: a Logística 4.0. Em primeiro lugar, é importante definir o que é logística, uma vez que o termo vem sendo usado de forma bastante abrangente.
Como uma especialidade da administração, logística é o processo de transporte e armazenamento de mercadorias e matérias-primas desde a origem até o destino. Uma forma de entendê-la é separar este processo em etapas:
- Compra, gestão, armazenagem e manuseio de matérias-primas;
- Estoque, processamento de pedidos e entrega dos produtos acabados.
E a Logística 4.0?
O coordenador e professor do curso de pós-graduação em Engenharia de Embalagem do Instituto Mauá de Tecnologia, Antonio Carlos Cabral, aponta que antes de se fazer qualquer analogia, é preciso a dar um passo atrás para entender melhor a Indústria 4.0.
“Da maneira como ela foi concebida pelos alemães, são sistemas autônomos, equipamentos que se comunicam, e isso é um estágio de tecnologia muito avançado. Alguns dos conceitos mais básicos da Indústria 4.0 é que a coleta de informações seja feita de maneira automática e que haja uma única fonte, sem anotações manuais, e que tudo seja sensorizado”, explica.
Segundo Daniel Mota, consultor e professor dos cursos de logística da Fundação Vanzolini, o conceito de Logística 4.0 nasceu de uma adaptação da Indústria 4.0. “A indústria 4.0 trata de utilizar um volume grande de informação para a tomada de decisão. A logística tradicionalmente já entendeu, nos últimos 15 ou 20 anos, que ela própria vive de informação”, afirma Mota.
Por se tratar de um conceito novo, há diferentes pontos de vista sobre o que é, e como opera, a Logística 4.0. Parte dos especialistas entende que se trata da aplicação das diretrizes de automatização, inteligência e autonomia da Indústria 4.0 aos processos tradicionais de logística.
Desta forma, tecnologias como Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial, Big Data, Cloud Computing e outras seriam adaptadas para componentes específicos, tais como paletes, esteiras, contêineres e veículos.
Mota tem outra visão: “Logística 4.0. não é automação, ela é o uso de informação. Acontece muitas vezes de o pessoal acha que operar 4.0 é operar com o robô, com o equipamento automatizado, com esteira, com transportador autônomo e, na verdade, não é isso”.
Impactos nas indústrias
Qualquer que seja a forma de coleta e análise das informações, automatizada ou não, a Logística 4.0 traz impactos positivos para a operação. Entre os mais citados, estão a redução de perdas (avarias, extravios), aumento da eficiência operacional, redução de custos, rastreabilidade e, talvez o mais importante, a satisfação do cliente.
Para as empresas que se encontram nos estágios iniciais ou sequer começaram a automatizar seus processos industriais, a logística tradicional bem executada pode ser suficiente. Porém, para aquelas que já se encontram em estágio mais avançado de transformação digital, a implementação da Logística 4.0 é quase uma obrigação. Do contrário, o descompasso entre as etapas pode comprometer toda a operação.
“Esta empresa vai produzir de uma maneira muito eficiente, mas vai ter problemas na distribuição. Muitas vezes, o produto é bom, a empresa produz de maneira eficiente, mas a distribuição é falha. E aí acontece de o produto atrasar, ser violado no trajeto e a imagem da empresa fica penalizada”, explica Mota.
Cabral alerta que, quando este descompasso se dá na cadeia produtiva como um todo, o impacto também pode ser negativo. “Para dizer que um sistema produtivo inteiro é 4.0, tem que imaginar que todos os elos estão no mesmo nível. Não adianta o centro de distribuição estar absolutamente alinhado se ele recebe o lote de um caminhão que foi anotado no papel. O que se preconiza é que o sistema tem que ser homogêneo. Uma corrente é tão resistente quanto for o elo mais fraco.”
Por onde começar?
O principal ponto de partida, na avaliação de Mota, é a capacitação, a preparação e o entendimento dos benefícios que a eficiência da entrega e do tratamento logístico trazem para o negócio.
“Eu costumo falar nos cursos e palestras: utilizar bem a informação não significa necessariamente ter um sistema computacional caríssimo que revoluciona sua planta. Você pode ser 4.0 com papel, com uma planilha Excel. Você tem que fazer um bom uso dessas informações, e este é o principal conceito relacionado ao 4.0.”
Para Cabral, a autopercepção é fundamental, ou seja, a empresa precisa saber onde ela está e para onde quer ir. “Quando você se organiza, diminui o tempo de movimentação e faz com que os fluxos de matéria-prima e de produto acabado sejam os menores possíveis, você já está se preparando.”
E, citando um grande pensador, ele aconselha: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”.
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