No atual contexto, grandes indústrias do plástico estão se esforçando para mitigar o fluxo de resíduos plásticos por elas gerados, e uma das estratégias que ganham importância é a reciclagem química.
Em uma explicação simples, a reciclagem química é representada por um conjunto de tecnologias que conseguem retornar plásticos pós-consumo à condição de seus insumos petroquímicos originais, como compostos de hidrocarbonetos dos quais podem derivar combustíveis e outros produtos.
Tal definição faz da reciclagem química uma ferramenta muito interessante para a inserção da indústria do plástico no universo da economia circular, beneficiando a própria indústria, a sociedade e o meio ambiente.
Para falar sobre esse tema e apresentar as aplicações da reciclagem química do plástico, conversamos com Luiz Alberto Falcon, responsável pela plataforma de reciclagem da Braskem.
Reciclagem química: a arte de transformar resíduos plásticos em matéria-prima circular
Em uma explicação bastante simples, a reciclagem química consiste basicamente na transformação química do resíduo de maneira que este se torne utilizável em outros processos.
No caso do plástico, a reciclagem química, também conhecida como reciclagem avançada, tem a função de transformar resíduos plásticos em matéria-prima circular destinada à fabricação de novos produtos, sejam plásticos ou químicos, refletindo em menos resíduos plásticos no meio ambiente.
Para Luiz Falcon, este é um processo que complementa a já tradicional reciclagem mecânica.
“A reciclagem química é complementar à tradicional reciclagem mecânica, visto que permite reciclar plásticos de difícil reciclagem gerando, no final, produtos com as mesmas características dos convencionais.”
Assim, na reciclagem química os resíduos plásticos são reprocessados, transformando-os em petroquímicos básicos que servem como matéria-prima em refinarias ou centrais petroquímicas.
Ferramenta ideal para inserir a indústria do plástico na economia circular
A reciclagem química faz uso de diferentes processos que permitem reciclar plásticos pós-consumo que dificilmente podem ser reciclados mecanicamente, seja pela mistura de diferentes plásticos ou pelo tipo da aplicação.
Neste contexto, Falcon explica que existem alguns artigos plásticos cuja composição é mais complexa, exigindo a adoção de tecnologias mais avançadas para separação dos seus componentes.
“Por essa razão, esse tipo de reciclagem é ideal para contribuir com a circularidade do material plástico”, complementa.
No entanto, mesmo com os muitos benefícios, a reciclagem química ainda está em fase de desenvolvimento, e é encontrada apenas em baixa escala e em regiões específicas.
Segundo dados da consultoria McKinsey, o fornecimento de plásticos oriundos de seu processo poderia crescer de 4% a 8% da demanda total de polímeros até 2030, e exige a implantação de mais de U$40 bilhões em investimentos na próxima década.
O estudo ainda aponta que a reciclagem química tem um potencial de crescimento anual da ordem de 20% até 2030.
“Há, portanto, um vasto campo de oportunidades nesta frente”, destaca o responsável pela plataforma de reciclagem da Braskem.
Neste contexto, a Braskem vê grande potencial nesse campo e vem realizando investimentos e estudos para impulsionar a reciclagem química em suas indústrias.
“Recentemente, firmamos um acordo com a Vitol para fornecimento de matéria-prima circular, derivada de resíduos plásticos. O acordo prevê que a Vitol iniciará o fornecimento do óleo de pirólise para a Braskem”, salienta Falcon.
Nos EUA, a Braskem se uniu a outras empresas e instituições para desenvolver uma nova forma de separar os componentes das chamadas embalagens multicamadas.
“Conhecida como Mechanical Chemical Hybrid Process (Processo Híbrido de Reciclagem Química e Mecânica), a iniciativa propõe um processo de abordagem inovativa e disruptiva para solucionar um desafio atual da indústria: criar alternativas para reciclagem dessas embalagens, uma vez que seus elementos são mais difíceis de serem separados e reciclados pelos meios tradicionais”, destaca o diretor da empresa.
Processos utilizados na reciclagem química de plásticos
Segundo Luiz Alberto Falcon existem alguns tipos de reciclagem química que podem ser utilizados pela indústria para que os produtos pós-uso possam ser transformados em um novo produto.
Dentre estes processos, se destacam:
Pirólise
Processo que converte parte do material em diferentes frações, tais como gás, naftas, Diesel, etc.
Neste processo, o material é exposto ao calor na ausência de oxigênio (para evitar a oxidação). Parte dele sai como monômero e é novamente polimerizada, enquanto a outra parte é usada na produção de combustíveis.
“Nós da Braskem focamos na pirólise. Nossa parceria com a Vitol utiliza esse método”, complementa Falcon.
Gaseificação
Este é mais um processo térmico que tem a capacidade de converter plásticos e biomassa em Syngas (gás de síntese) e CO2, utilizados como matérias-primas em algumas indústrias.
Dissolução
Consiste na utilização de um solvente que dissolve os polímeros (resíduos plásticos), separando-os de outros resíduos. Aditivos, pigmentos e polímeros não “desejados” não são dissolvidos e assim, são removidos da solução.
Posteriormente, há a adição de um coagulante para precipitar o polímero alvo.
Após o processo, o polímero é obtido diretamente, sem necessidade de reação química. Atualmente, existem cerca de oito variações de tecnologias deste tipo.
Solvólise
Processo similar à dissolução, porém, com decomposição do polímero em seus monômeros, sendo mais comumente utilizada na reciclagem avançada do PET.
Após a “despolimerização”, outros componentes, tais como aditivos, cargas, etc, precisam ser removidos do processo.
Enzimólise
Ainda em escala totalmente laboratorial, essa é uma tecnologia baseada em processos bioquímicos que utiliza diferentes tipos de biocatalisadores para “despolimerizar” o material, gerando novos monômeros.
Dessa forma, a reciclagem química de resíduos, principalmente de produtos plásticos pós-uso, é uma forma de colocar a indústria do plástico no ramo da circularidade.
Seus processos permitem que o material reciclado seja utilizado como matéria-prima em muitos outros processos e aplicações.
Isso permite que os negócios da empresa sejam ampliados, tornando-a mais sustentável.
Quer saber mais? Então leia nosso artigo e saiba tudo sobre a reciclagem química e seus diferentes processos.